NINHO (1) – espaço para improvisar movimentos – Felipe Ribeiro e Ruth Torralba (ORG)
Numa das cartas que escreveu à Lygia Clark, Hélio Oiticica conta que seu apartamento já não tinha móveis, mas estruturas interligadas que faziam cada visitante reconfigurar sua postura, ação e motivação em meio ao lugar. Essa percepção experimental dá o tom de como considerar o ninho: um espaço forjado que, ao mesmo tempo em que acolhe, desregula o que concebemos como doméstico, naturalizado e reconhecido. O ninho não se confunde com a casa. Ele confunde e desestratifica aquilo a que chamamos casa. Combinando estranhamento e permanência, é assim que o ninho se torna um “espaço de improvisar acontecimentos,” nas palavras do artista. O ato de requalificar o íntimo como estranho, uma oscilação de distâncias, entre o perto e o longe, entre o tátil e a visão, entre o imersivo e o observado, é mobilizador para a pesquisa, especialmente a pesquisa em artes e a pesquisa acadêmica em artes. Nomeamos nosso 1º Seminário de Pesquisas em Andamento do PPGDAN/UFRJ como Ninho, justamente por ver no evento um espaço potencial que nos permite nutrir as perguntas que elegemos como pertinentes para então oscilá-las entre incorporá-las e estranhá-las, ou incorporá-las até que já não nos reconheçamos. O acontecimento é incorporal, encarna e se efetua em corpos sem se confundir com sua materialidade. No entanto, o acontecimento produz corpos e abre as espirais do tempo ao indefinido, ao infinitivo, ao instante, ao improvável, ao improviso. Ao longo destas páginas que se seguem trazemos pesquisas em andamento de vários discentes do programa e também de docentes. Optamos por não hierarquizar espaços, mas pensá-los por associação. Propomos cada espaço-ninho de forma a firmarmos o corpo teórico-prático que constitui as linhas de pesquisa do nosso Programa de mestrado em dança e refletirmos através de seus eixos. Com encontros situados pelos títulos das linhas, “Performance e performatividades da dança”, “Poéticas e interfaces de dança”, e “Dança-educação”, sabemos que toda definição é uma aposta. E que toda definição é invariavelmente confrontada pela sua incompletude. Cabe a nós estarmos constantemente nos perguntando se conceitos ainda vigoram da maneira como os pensamos, ou se mudaram sua matéria e sua vibração. Olhar para esse conjunto de trabalhos apresentado nos seis ninhos que se espalham ao longo de três dias atua neste sentido de investigação. Por fim, saudamos a força da universidade pública que permanece atuante e, que mesmo sob inúmeros ataques, cortes orçamentários e precariedade infraestrutural, segue em ação operando mudanças, abrindo espaço para um mundo mais justo e mais plural, e honrando seus compromissos republicanos. Essa força é a força de todos nós que escolhemos e pactuamos estarmos juntos aqui improvisando acontecimentos! Agradecemos a cada participante por fazer deste pacto um momento tão energizante de vida e pensamento! Boa leitura! Axé-Evoé-Laroié-Kuekaturete?!