Contra-ataque à necropolítica – Alex Frechette
Vivemos hoje em cidades polifônicas, como nos dizia o filósofo Massimo Canevacci. Cidades que se comunicam com vozes diversas narradas por um coro polifônico, nais quais se cruzam, se encontram e se fundem harmonias e dissonâncias. Alex Frechette procura revelar precisamente essa cidade a várias vozes. Uma dessas vozes são as grafias de protesto – que o próprio Alex vai depositando junto com outros artistas, como lembretes de lutas e confrontos, na disputa pelo espaço público. Reclamar um “espaço de visibilidade” com pautas de lutas sociais, laborais, cívicas, identitárias, em suma, políticas. E assim, algumas conexões destas intervenções gráficas e de visualidades materiais na cidade podem ser lidas como quasi-performances: um conjunto de azulejos colados nas paredes, um varal de cartazes estendido numa praça, um mural de fotos de tamanho gigante, uma pichação ou uma exposição de imagens no chão, e até mesmo seu corpo… são ressonâncias dessas pautas. Elas mesmas se tornam repertórios restaurados e recriações quando emergem em manifestações ou em ocupações do espaço público nas mãos de sujeitos anônimos. E se constituem como territórios de disputa, como espaços de reivindicação, de reconhecimento simbólico e material ou como esfera de ativismo mobilizada por uma diversidade de agentes. Penso que o gesto artístico de Alex em espaço público insere-se nesta dinâmica que temos vindo a classificar por artivismo e que ele sugere como práticas artísticas de “contra-ataque”. Este seu livro, sua tese de doutoramento, nos propõe justamente muitas perguntas, mais do que respostas, para transformar o mundo: Que reivindicações e alianças centrais são possíveis no protesto? Pode o gesto artístico desvendar o olhar fetichista associado à ordem do consumo na cidade e subverter modos de ver? Esses rastros efêmeros que vão ficando nebulosamente pela cidade podem ser pensados com “arquivos absurdos” e potência de uma certa arte do fracasso? Será ela instrumento fundamental para revelar brechas, fissuras e alternativas futuras a um sistema capitalista?