Nós Somos Uma Correspondência – Fernanda de Mello Gentil

O aparecimento de novas tecnologias, como a fotografia e o cinema, ampliou nossa capacidade de reproduzir e elaborar artisticamente o real, gerando novas linguagens e novas formas de arte. É possível que uma ruptura como esta também venha a ocorrer com a literatura num futuro não muito distante.

Hoje, computadores, smarthphones e tablets estão mudando não só nossa maneira de ler, como de narrar uma história. Ler, ver e ouvir já não são experiências tão distintas.

Novas possibilidades expressivas estão à mão do escritor. Ao unir texto, imagem e som, o autor contemporâneo ganha uma nova dimensão para expressar esta experiência multidimensional que é a própria vida. Paradoxalmente, o virtual acaba por instaurar uma nova forma de realismo, com a imersão no leitor no universo narrado.

É o que faz Fernanda de Mello Gentil em Nós somos uma correspondência. Este romance epistolar ou, melhor dizendo, e-pistolar faz uso de várias estratégias narrativas próprias das mídias digitais, o compartilhamento de arquivos, imagens, links, música, vídeo, para narrar por meio de “cartas” o nascimento de uma paixão entre um homem e uma mulher.

Livro-site, esta obra híbrida é mais do que um experimento literário, é literatura de verdade, com personagens de carne e osso, dramas que podemos sentir na pele, sentimentos profundamente inquietantes.

Escrita em tempo real ao longo de três meses, reproduz a correspondência entre a tradutora L. e o músico P. Ela casada, ele quase.


.: Sobre Nós somos uma correspondência de Fernanda de Mello Gentil

A troca de e-mails que devem ser deletados imediatamente, para a segurança dos amantes, revela muito sobre os personagens e seus dilemas: sua diferença de idade, sua forma de encarar a vida e o amor, o casamento, o trabalho. Como qualquer casal apaixonado, L. e P. trocam músicas, cenas de filmes, imagens, poemas.

O livro reproduz algumas experiências do site. De fato, os dois se complementam. A ponto de o livro trazer um QR Code para que o leitor possa usar seu smarthphone para acessar um vídeo sobre o qual os personagens conversam. Não é uma obra para ser lida passivamente, mas com emoção e curiosidade. E vale a pena, porque o final é surpreendente.

Cristiane Costa


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